sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Memorias de infância


Cada vez que vejo o meu filho tempos intermináveis a olhar para um ecrã seja de TV ou telemóvel*, ou que o vejo a brincar sozinho com os seus carros e legos no chão da sala, sinto uma estranha tristeza ou mais bem uma nostalgia, porque as minhas memorias de verdadeira felicidade na minha infância não incluem brinquedos nem coisas caras, incluem gargalhadas, aventuras, amoras silvestres, saltar na cama, castelos de cadeiras e lençóis, brincadeiras com os vizinhos na rua, estradas de terra no quintal, túneis de areia na praia e tantas outras coisas que o dinheiro não compra.

E quero, mais do que dar-lhe coisas, quero que tenha memorias felizes.

Quero dar-lhe cocegas e gargalhadas, quero dar-lhe amigos e irmãos (de sangue ou de coração), quero dar-lhe brincadeiras e "apanhadas" e "escondidas", quero ajuda-lo a contar as estrelas num céu estrelado numa noite escura, quero dar-lhe amoras silvestres que apanhamos e comemos rápido para que ninguém diga que é preciso lavar, quero dar-lhe caminhadas que se transformam em aventuras, quero dar-lhe memorias que valerão mil vezes mais que todos os brinquedos que o dinheiro possa comprar.

Quero dar-lhe tempo, o meu tempo para brincar, quero dar-lhe paciência, a minha, para o ensinar a brincar. Quero dar-lhe tudo o que eu tive, mais tudo o que ele merece.

Quero dar-lhe conversas de meia noite, e contar-lhe as minhas memorias.
Aquelas quase completamente preenchidas por alguém que não está cá, mas que faz tanto parte de mim e dele como fazem todas essas memorias.

Quero dar-lhe as minhas memorias para que ele possa fazer as dele, sabendo que não precisa de coisas para que sejam as mais felizes, apenas de amigos (irmãos), de vontade, de energia, de criatividade.

Quero dar-lhe tudo o que o dinheiro não compra, que não se rouba nem se estraga.

 

 

 * Em certas e determinadas alturas é a única forma de o manter sentado e quieto por mais do que dois segundos, especialmente em restaurantes e lugares públicos, e em todo caso a culpa é minha (e do pai) pois fomos nós que a isso o habituámos. Mas nos tempos que correm, ser criança é incomodar os outros. 

 

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